quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fábula "O Pavão queixando-se a Juno"


O Pavão Queixando-se a Juno

Queixava-se a Juno um pavão:
“Deusa, dizia ele, é com toda razão
Que estou queixoso e murmurante:
O meu canto, que é vosso dom,
Desagrada a toda a natura;
Enquanto o rouxinol, ínfima criatura,
Forma um som tão suave e brilhante,
Sendo, por si, honra da primavera.
Juno lhe respondeu severa:
“Ave invejosa, é bom ficar calada,
Cabe a ti cobiçar a voz do rouxinol?
Tu que se vê trazer em torno de teu colo
Um arco-íris assim, com todos os cambiantes;
Que te exibes, e que levantas
Uma cauda tão rica, e que os olhos encantas
Como a loja de um lapidário?
Algum pássaro existe sob o sol
Mais do que tu extraordinário?
Cada animal não tem todas as propriedades.
E nós demos a vós diversas qualidades:
Uns têm o grande porte e a força é seu quinhão;
O falcão é ligeiro, a águia tem bravura
o corvo serve a predição,
A gralha avisa sempre a desgraça futura;
Muitos no canto têm vantagem.
Pára de te queixar, ou, como punição,
Eu vou tirar tua plumagem.”

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